O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) alerta que o verão, que começará nessa sexta-feira (22), tem chances de bater o recorde de temperatura no Sudeste ou ficar entre os três mais quentes. A previsão acompanha o aquecimento global, que fará de 2024 o ano mais tórrido do planeta
— É muito provável que seja o verão mais quente, tornando as coisas difíceis, pois a estação já tem temperaturas elevadas. Por ora, ainda não podemos saber. É certo que será muito quente — diz Gilvan Sampaio9, coordenador-geral de Ciências da Terra do Inpe.
Segundo ele, este verão caminha para ser pelo menos rigoroso quanto os de 1997-1998, de 2013-2014 e de 2015-2016, as estações mais quentes já registradas, e todas sob El Niños (aquecimentos das águas do Pacífico) fortes. Em 2015, o Rio ficou 35 dias seguidos sem chuva entre janeiro e fevereiro.
O volume total de chuva na estação pode ser até menor. Porém, quando elas conseguirem romper as massas de ar quente, virão com intensidade. Todo o volume esperado para um mês pode cair em poucos dias, em tempestades destrutivas. Isso porque as temperaturas elevadas fazem com que o ar quente evapore e forme nuvens maiores.
— Temperatura alta combinada a mais vapor na atmosfera tem efeito exponencial. O aumento de 1 °C produz impacto imenso — explica Sampaio.
O coordenador do Inpe observa, no entanto, que o El Niño, historicamente, não está associado à maior incidência de desastres por chuva no Sudeste. Todavia, neste ano, o fenômeno está associado às mudanças climáticas e à elevação da temperatura do Atlântico, o que torna o cenário incerto no que diz respeito a chuvas.
As precipitações seguem no Sul, sobretudo no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. A seca é esperada tanto no Semiárido do Nordeste quanto na Amazônia. Porém, na Amazônia, a aridez se desloca para Norte e o Leste da região. O Amazonas, que viu alguns dos maiores rios da Terra se tornarem filetes de água, começa a se recuperar com a chegada de mais chuvas.
O Rio Negro, que teve a maior seca da História, mostra melhora. Também estão em situação menos crítica o Amazonas, o Solimões, o Madeira e o Purus.
Mas a estação seca no Amazonas estava associada, na primavera, à elevação da temperatura do Atlântico Norte, que bloqueia os canais de umidade da floresta. Desta vez, será o El Niño que causará problemas. E afetará sobretudo o Pará e Roraima. Amapá e o Leste do Amazonas também podem sofrer.
Sampaio observa que o Nordeste enfrentará situações distintas. A região é a única do Brasil que tem três regimes climáticos. Pode haver chuvas mais intensas no Sul da Bahia, algumas precipitações no litoral e seca no Semiárido.
— Anos de El Niño não são bons, e 2024 não será exceção. Temos que ver como outros fatores da atmosfera vão se comportar. Mas a previsão até agora segue sendo de extremos de calor — alerta o cientista.
Com informações de O Globo