Dois dias após anunciar restrições a protestos, policiais argentinos expulsam organização indígena acampada em praça pública

Dois dias depois do governo do presidente argentino, Javier Milei, anunciar restrições a protestos no país, a polícia da cidade de Buenos Aires colocou neste sábado (16) a medida em prática pela primeira vez. Os indígenas do movimento Tercer Malon de La Paz, que ocupavam a praça Lavalle há quatro meses para protestar contra a reforma constitucional da província de Jujuy, localizada no norte do país, foram expulsos do local.

A operação aconteceu no dia em que os indígenas haviam anunciado que voltariam ao seu território, após a Comissão de Análise de Violações de Direitos Humanos da província ter publicado na sexta-feira um relatório compilando as denúncias de truculência nos protestos em Jujuy.

— Continuamos a defender nossos direitos diante da imposição violenta de uma reforma inconstitucional em Jujuy — disse na sexta Desiderio Olmos, uma das lideranças indígenas, lembrando que “a reforma foi sancionada na província e aprovada em 20 de junho em um contexto de repressão violenta”.

Eles ocupavam o local, que fica em frente à Corte Suprema de Justiça e de outros tribunais importantes do país, desde o primeiro dia de agosto.

— A polícia chegou e começou a remover as coisas e nos mandou desocupar o local — disse o representante da organização popular em vídeo publicado nas suas redes sociais.

Por outro lado, a polícia alegou que estava fazendo uma operação de “limpeza pública” para garantir que o espaço fosse deixado no mesmo estado que estava antes da ocupação. Segundo o Tercer Malón, a “ajuda” dos agentes parecia mais uma operação de despejo do que de limpeza. Seu retorno para o território havia sido atrasado por problemas com o ônibus em que voltariam.

Nas redes sociais, seguidores de Milei aplaudiram a medida e seus opositores o criticaram. Movimentos sociais já anunciaram protestos para a próxima semana, e a decisão do governo de proibir os chamados piquetes (bloqueios de ruas e estradas) deve provocar um clima de tensão na capital argentina. Segundo estimativas de ONGs locais, nos últimos 12 meses foram realizados cerca de 10 mil piquetes em todo o país.

A principal manifestação foi convocada para o dia 20 de dezembro por movimentos como o Polo Obrero e partidos de esquerda. Nesse dia, são esperadas pelo menos 50 mil pessoas, que caminharão do Congresso Nacional até a Casa Rosada para repudiar as medidas de ajuste anunciadas pelo ministro da Economia, Luis Caputo. A ministra da Segurança Pública admitiu que “o primeiro dia será difícil”.

— Eles podem se manifestar, mas não bloquear ruas. Se não conseguirmos 100% de efetividade no primeiro dia, será no segundo ou no terceiro — declarou Bullrich, em entrevista a meios locais.

Em pronunciamento na quinta-feira, a ministra da Segurança Pública, Patricia Bullrich, afirmou que as vias públicas do país não poderão mais ser bloqueadas durante manifestações, e que quem tentar fazê-lo será processado. Segundo ela, “se não há ordem, não há liberdade, e se não há liberdade, não há progresso”. A medida foi anunciada no momento em que o governo argentino está prestes a fazer um ajuste fiscal que terá forte impacto na população.

Lideranças populares e organizações sindicais criticaram as medidas e prometeram respostas à altura. Uma série de protestos estão previstos para semana que vem ao redor do país, inicialmente centrados no aniversário do “Argentinazo”, a onda de protestos contra o governo, entre 19 e 20 de dezembro de 2001, que levaram à queda do então presidente Fernando de la Rúa. Agora, militantes afirmam que as medidas de ajuste anunciadas por Milei vão figurar nos discursos, faixas e gritos de ordem.

Com informações de O Globo.

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