O comissário do comércio da União Europeia, Valdis Dombrovskis, cancelou a viagem que faria ao Brasil nesta semana para finalizar o acordo comercial do bloco com o Mercosul, ao mesmo tempo que as perspectivas de concluir o acordo neste ano diminuíram.
O dirigente deveria viajar para o Rio de Janeiro para uma reunião das nações do Mercosul, que incluem Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, na quinta-feira (7). Mas o acordo ficou mais distante com a mudança de governo na Argentina e a declaração de oposição do presidente da França, Emmanuel Macron.
Neste sábado (2), o francês afirmou que o acordo é “antiquado” e disse que tinha preocupações com a falta de metas ambientais. “Sou contra o acordo do Mercosul com a União Europeia. É um acordo completamente contraditório com o que [Lula] está fazendo no Brasil e com o que estamos fazendo. É um acordo que foi negociado há 20 anos e que tentamos consertar, e que foi mal consertado”, disse.
“Não posso pedir aos nossos agricultores, aos nossos industriais na França, mas também em toda a Europa, que façam esforços para aplicar novas regras para descarbonizar… e depois dizer de repente: ‘Estou removendo todas as tarifas para permitir a entrada de produtos que não aplicam essas regras’”, afirmou.
Os comentários de Macron frustraram autoridades da UE que esperavam estar perto de fechar um acordo que está em negociação há duas décadas.
A mudança de governo na Argentina também dificultou o acordo. O presidente eleito Javier Milei, que toma posse em 10 de dezembro, já criticou o bloco do Mercosul e prometeu, durante a campanha, que não aceitaria a negociação com a União Europeia.
Dois diplomatas da UE disseram que as chances de um acordo este ano estão diminuindo, enquanto um deles afirmou que as negociações para o acordo podem entrar em colapso até o verão europeu de 2024 (entre junho e setembro).
Os negociadores enfrentaram uma série de reveses relacionados ao desejo da UE de adicionar mais compromissos ambientais desde um acordo provisório em 2019.
Neste domingo (3), o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que o país não pode ser responsabilizado em caso de fracasso nas negociações.
“Se não houver acordo, paciência. Não foi por falta de vontade. A única coisa que tem que ficar claro é que não digam mais que é por conta do Brasil e que não digam mais que é por conta da América do Sul”, disse Lula.
Membros do alto escalão do governo brasileiro já dão como certo que a negociação com a União Europeia terminará sem acordo, já que o Brasil não cederá às novas condicionantes ambientais e é improvável que os europeus consigam articular posições de todos os países do bloco em uma semana.
Com informações da Folha de S. Paulo.