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Criado em 1982, o Programa Antártico Brasileiro (Proantar) se tornou uma peça fundamental no cenário antártico, garantindo a presença estratégica do Estado brasileiro no continente.
Ao longo de sua existência, o programa que era apenas militar, criado na Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM), evoluiu para um braço de pesquisa do Estado, executado de forma descentralizada e multi-institucional, com a participação de diversos ministérios, cujo foco principal é apoiar pesquisas científicas de alta qualidade, diversificadas e de origem brasileira, visando consolidar o país como membro consultivo do Tratado da Antártida.
Em entrevista à Sputnik Brasil, Wagner Oliveira Machado, capitão da fragata da Marinha, responsável pelo Proantar, disse que “com mais de 40 anos, já foram muitos avanços”.
Questionado sobre o novo navio de pesquisas previsto para 2025, o comandante sinalizou que é um movimento para o fortalecimento das capacidades de exploração e coletas brasileiras em ambiente ártico.
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Por que o Brasil investe em pesquisas na Antártida?
Uma das grandes novidades anunciadas pelo comandante Machado foi a aquisição de um novo navio de pesquisa previsto para 2025, fortalecendo as capacidades de exploração e coleta de dados no ambiente antártico.
Além disso, desde 2020, segundo relembrou à Sputnik, a Marinha inaugurou a moderna Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), uma instalação brasileira equipada com 14 laboratórios internos, 3 laboratórios externos e um avançado sistema de monitoramento ambiental, visando reduzir a pegada de carbono e gerar energia renovável.
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“Nossa iniciativa [da Marinha] é fortalecer efetivamente a possibilidade de pesquisa científica do Brasil aqui na Antártida. […] o Programa Antártico Brasileiro está apoiando 24 projetos de pesquisa, distribuídos em várias áreas do conhecimento: biologia, química, avaliação das águas, avaliação da atmosfera […]”, destaca.
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Qual a função do Proantar?
A estação se tornou uma referência no continente antártico, proporcionando condições ideais para pesquisas científicas brasileiras de alta qualidade, segundo especialistas ouvidos pela Sputnik. A ideia é reforçada pelo comandante da fragata.
Ao abordar os avanços do Proantar ao longo de quatro décadas, Gabriela Paulucci, pesquisadora da Antártida no Núcleo de Avaliação da Conjuntura (NAC), da Escola de Guerra Naval (EGN), destaca a importância da ciência antártica brasileira.
“Desde a criação do Proantar, em 1982, a ciência antártica brasileira acumulou conhecimentos ímpares”, afirma Paulucci.
Ela ressalta que a criação do programa foi marcada pela Operação Antártica Brasileira (Operantar I), que ocorreu em 1982, seguida pela conquista do status de membro consultivo no Sistema do Tratado da Antártida em 1983.
A pesquisadora enfatiza que a EACF, por ser uma das mais modernas da Antártida, é essencial para garantir a qualidade da pesquisa científica brasileira na região, atuando como um pilar essencial para a posição do Brasil como autoridade polar.
“A modernidade da Estação alavanca, sobretudo, a união de informações entre a Antártida e a sede do Programa Antártico Brasileiro, em Brasília. A prontidão para a tomada de decisão, a facilidade de comunicação e a sistematização dos processos entre esses dois polos são essenciais para a solidificação do programa”, reforça.
Como é a estrutura do Proantar?
O comandante destacou que a Operantar está atualmente em sua 42ª edição, representando 42 anos de presença ativa da Marinha na região. Durante o verão antártico, o Proantar apoia 24 projetos de pesquisa em diversas áreas, incluindo biologia, química, avaliação das águas e atmosfera.
A seleção dos projetos ocorre por meio de uma estrutura complexa, envolvendo grupos de assessoramento e avaliação ambiental, o que garante a qualidade e viabilidade das pesquisas. O comandante destacou, ainda, a importância da pesquisa relacionada às águas e correntes marinhas para entender a circulação no oceano Austral e seu impacto no oceano Atlântico e no litoral brasileiro.
Ao abordar a importância da região antártica para o Brasil, o comandante Wagner Oliveira ressaltou a relevância geopolítica no contexto do Tratado da Antártida, onde a presença constante do Brasil e a qualidade das pesquisas contribuem para as decisões que moldarão o futuro do continente. Ele também destacou as interações entre o oceano e a atmosfera na Antártida e como esses fenômenos afetam diretamente o clima brasileiro.
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Quais as principais pesquisas realizadas pelo Proantar?
Questionado sobre avanços na pesquisa, Pedro Allemand, doutorando em relações internacionais na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), mestre em economia política internacional e integrante do Grupo de Pesquisa em Geopolítica Corrente do NAC da EGN, destacou que o principal avanço do Proantar é “a criação de um corpo científico brasileiro com experiência de campo na Antártida, comprometidos com a exploração científica e pacífica do continente e, em sua maioria, comprometidos também com o combate às mudanças climáticas e aos demais problemas ambientais que afetam a Antártida e o planeta como um todo“.
Ele pontuou que a Antártida faz parte do contexto geopolítico mais imediato do Brasil.
“O Estado brasileiro inclusive reconhece essa importância ao inserir a Antártida no entorno estratégico do Brasil em 2016 e, ao reafirmar isso, no livro branco de 2020. Além disso, a região, apesar do Tratado da Antártida, é um foco dormente de disputas interestatais que envolvem até mesmo países vizinhos, como a Argentina e o Chile. Além da geopolítica, a Antártida é fundamental na busca por entender e resolver a crise ecológica que a humanidade enfrenta hoje”, explicou.
Segundo Allemand, o Proantar é um programa de importante impacto no sentido de se manter neutro com relação às questões geopolíticas, estendendo a tradição diplomática brasileira “para esse campo do Tratado da Antártida, ao mesmo tempo em que é um instrumento importante na promoção da ciência e da pesquisa polar brasileira. O que falta, e aí não se trata de um problema do programa, é “converter esses conhecimentos para políticas públicas, em especial as ambientais”.
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Já para Gabriela Paulucci, a importância estratégica da Antártida para o Brasil se estende além da proximidade geográfica.
“[Isso marca] a região como um polo vital de oportunidades em pesquisa e desenvolvimento. Programas como o Projeto Briotech, desenvolvido pela Universidade Católica de Brasília [UCB], voltado para a análise de genomas e avaliação de potenciais anticâncer de briófitas presentes na Antártida; e o Projeto Fioantar, da Fundação Oswaldo Cruz [Fiocruz], que auxilia no monitoramento e na prevenção de epidemias. Ambos os projetos beneficiam o Sistema Único de Saúde [SUS] e, consequentemente, a população brasileira“, conclui.
Qual é a relação do Brasil com a Antártida?
Questionado sobre as perspectivas para 2024, o comandante finalizou com o apoio a 24 projetos de pesquisa na Operantar 42. Ele explicou que a visitação à Antártida é possível, principalmente para jornalistas e cidadãos comuns interessados.
“Esses projetos são selecionados. Os pesquisadores têm de adentrar em algum projeto e, a partir do momento em que ele está no projeto, são os coordenadores de projetos realmente que estão lá, na supervisão do projeto, que escolhem aqueles alunos, tanto mestrando como doutorando. Já são realmente alunos acadêmicos mais experimentados, que realmente têm a possibilidade de vir aqui”, comenta.
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