Desde sua fundação , o PT adotou o “principismo”. Uma política isolacionista que fez o partido não participar das Diretas Já nem da Constituinte. Agora passou a adotar o que o cientista político Sérgio Abranches chamou de presidencialismo de coalisão –termo empregado n vezes por Michel Temer na Presidência. A coalisão não é só política, é econômica, e inclui os corruptos da J&F, controladora da JBS.
No começo dos tempos não era assim. Com ares de viço virginal, a Carta de Princípios do Partido dos Trabalhadores foi lançada publicamente no dia 1º de maio de 1979.
Ela começa assim:
“Numa sociedade como a nossa, baseada na exploração e na desigualdade entre as classes, os explorados e oprimidos têm permanente necessidade de se manter organizados à parte, para que lhes seja possível oferecer resistência séria à desenfreada sede de opressão e de privilégios das classes dominantes”.
E prosegue:
“É por isso que não acreditamos que partidos e governos criados e dirigidos pelos patrões e pelas elites políticas, ainda que ostentem fachadas democráticas, possam propiciar o acesso às conquistas da civilização e à plena participação política a nosso povo.”
Em 2020 começou o reverso.
Naquele ano, sob a batuta de Lula, o PT ampliou o seu arco de alianças para as eleições municipais de então. O comando petista autorizou, dia 7 de fevereiro de 2020, alianças com partidos do centrão, PSDB, DEM e até PSL em cidades onde PT ou seus aliados históricos encabecem a chapa.
E mais: por apenas dois votos, o comando petista decidiu dia 28 de agosto passado, não barrar alianças com o partido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições municipais de 2024. Pela decisão do diretório nacional do PT ficam permitidas coligações com candidatos do PL nos municípios, desde que apoiem o presidente Lula (PT).
A redação da resolução foi submetida à votação no diretório petista, tendo sido aprovada por 29 votos contra 27. Teve como base um texto apresentado pela corrente CNB (Construindo um Novo Brasil), tendência majoritária integrada por Lula.
A proposta da reeleição de Lula é mencionada em 3 dos 37 parágrafos da resolução. Já de início diz que “as eleições municipais de 2024 demarcam um momento estratégico para a construção de uma sólida aliança popular e democrática que promova a recondução do governo Lula em 2026”.
As alianças espúrias continuam não só na seara política.
Após delatarem o atual presidente Lula na Lava Jato, os irmãos Wesley e Joesley Batista, da JBS, se distanciaram do PT e tentaram se aproximar de Jair Bolsonaro nos últimos quatro anos. Até contrataram o advogado Frederick Wassef, de confiança da família do ex-presidente, com esse objetivo.
Uma das tarefas de Wassef era tratar da repactuação do acordo de delação premiada dos irmãos Batista, de 2017, com o objetivo de tentar reduzir a multa estipulada na delação, da ordem de R$10 bilhões.
Mudou o governo, mas a ingerência da JBS nele jamais perdeu o fôlego.
Após se aposentar do STF, Ricardo Lewandowski foi contratado para escrever dois pareceres e atuar como consultor sênior do Grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista.
O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski encontrou o presidente Lula (PT) nesta terça dia 28 de novembro em Riad, capital da Arábia Saudita.
A reunião ocorreu em meio a debates sobre a sucessão no Ministério da Justiça após a indicação do atual comandante da pasta, Flávio Dino, para o STF.
Muito próximo do presidente, Lewandowski é um dos cotados para assumir o ministério no governo Lula. E continua emitindo pareceres para a J&F, controladora da JBS.
Em pronunciamento do dia 22 de março passado, o senador Eduardo Girão (Podemos-CE) criticou a presença dos irmãos Joesley e Wesley Batista na comitiva oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China.
— Qual é o melhor adjetivo a ser usado nesse caso? Indecente? Indecoroso? Despudorado? Imoral? No Brasil, a corrupção é um verdadeiro câncer em metástase, um câncer que, respeitando quem pensa diferente, no meu modo de entender, é agravado pela nossa Suprema Corte, quando ela acabou em 2019 com a prisão em segunda instância e decidiu, em seguida, revogar a condenação de Lula. Estamos falando de valores morais — protestou o senador.
Não parou na China.
Ricardo Lewandowski, que é também o atual presidente do Conselho Jurídico da Confederação Nacional da Indústria (CNI), integrou a comitiva de empresários que acompanharam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para os Emirados Árabes na COP-28. Lewandowski, que deixou o STF em abril após atingir a idade de aposentadoria compulsória de 75 anos, foi convidado pelo governo para a viagem. Além dos Emirados Árabes, ele acompanhou o presidente em visitas à Arábia Saudita, ao Catar e à Alemanha, finalizando em Berlim.
Afinal, o que são R$8 bilhões para quem tirou uma receita de R$170 bilhões com base na compra da maior parte de políticos do congresso?
O diretor da JBS Ricardo Saud afirmou em sua delação premiada que a empresa distribuiu propinas por atacado no meio político brasileiro, detalhando os nomes de mais de mil beneficiários. Em depoimento prestado à Procuradoria- Geral da República (PGR), ele revelou que 1.829 candidatos, de 28 partidos das mais variadas colorações, receberam dinheiro do grupo controlado pelos irmãos Joesley e Wesley Batista.
As doações ilícitas foram de quase R$ 600 milhões. O grosso dos recursos, segundo o delator, foi destinado a candidatos em troca de contrapartidas no setor público. “Tirando esses R$ 10, R$ 15 milhões aqui, o resto tudo é propina. Tudo tem ato de ofício, tudo tem promessa, tudo tem alguma coisa.”
Esse é o PT real: um teleguiado da J&F e da JBS.