O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta terça-feira, que fará apenas duas viagens internacionais no próximo ano, incluindo uma reunião na Guiana. A declaração de Lula ocorre em meio à tensão com a Venezuela pela região de Essequibo.
Lula afirmou que quer participar da reunião dos países do CARICOM, bloco de cooperação econômica e política criado em 1973. O bloco é formado por por ex-colônias de potências europeias que com a independência se uniram para suprir limitações econômicas e políticas a partir da sua nova posição.
— Essa é a minha última viagem ao exterior. O ano que vem eu tenho duas viagens que eu quero fazer, uma é para uma reunião da União Africana, dos 54 países da África, que vai ser em Addis Ababa, na Etiópia. E a outra é na Guiana, uma reunião dos países do CARICOM. Essas eu quero participar, porque coisa que eu tenho interesse de falar é sobre democracia, sobre sistema ONU, sobre financiamento. O restante dos 365 dias se preparem porque eu vou percorrer o Brasil — afirmou Lula.
O bloco é formado por Antígua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Dominica, Granada, Guiana, Haiti, Jamaica, Montserrat, Santa Lúcia, São Cristóvão e Neves, São Vicente e Granadinas, Suriname e Trinidad e Tobago. Em 1998, Cuba foi admitida como membro observador.
Nesta segunda-feira, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou que recuperaria o Essequibo, após o referendo do último domingo aprovar a anexação do território. O território faz parte da Guiana, que se diz “vigilante” frente ao aumento das tensões na região. O território é rico em petróleo e é uma reivindicação centenária de Caracas.
Embora analistas apontem como improvável um conflito armado no momento, o Brasil tem tomado medidas de segurança com a escalada de tensões na região. O Exército brasileiro enviou 20 blindados a Pacaraima, em Roraima. O deslocamento das unidades já estava programado para dar apoio em operações contra o garimpo, mas as Forças Armadas se preparam para reforçar a presença no local.
O ministro da Defesa, José Mucio, disse que a operação já “estava planejada” para o “combate ao garimpo ilegal”, mas as unidades blindadas também poderão ser usadas para garantir a segurança na zona. Os blindados são do modelo Guaicuru, e vão sair de unidades no Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul, onde ficam armazenados, segundo o Estadão. O tempo de transporte deve ser de pelo menos um mês.
O Exército brasileiro também aumentou para 130 o efetivo para o patrulhamento na fronteira com a Venezuela. O Pelotão Especial de Fronteira de Pacaraima, em Roraima, que normalmente opera com 70 homens, ganhou o reforço de mais 60 militares na semana passada.
Frente diplomática
A crise entre Venezuela e Guiana também é acompanhada com atenção pelo Ministério das Relações Exteriores. A embaixadora Gisela Padovan, secretária de América Latina e Caribe no Itamaraty, afirmou que o Brasil mantém diálogo com os países.
— Estamos falando em alto nível com os dois países e esperamos que a solução seja pacífica — afirmou a diplomata.
Há duas semanas, com a escalada de tensão entre os países e a aproximação do referendo venezuelano, o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, viajou a Caracas. A ida apressada teria sido motivada por materiais de campanha sobre o Essequibo, que teriam causado preocupação no Itamaraty e no Planalto.
Fontes ouvidas pela reportagem afirmaram que Amorim pediu a Maduro que buscasse o diálogo e baixasse o tom sobre as ameaças de invasão territorial, argumentando de que uma escalada da tensão entre a Venezuela e a Guiana pode criar “uma situação de instabilidade regional”.
Com informações do GLOBO.