A pá de cal na carreira política de Jair Bolsonaro será a atual comprovação, acima de qualquer dúvida e não deixando nenhuma brecha para seu vitimismo habitual, de que ele montou um aparato de espionagem privada a serviço do seu clã, dentro do Estado e bancado pelos contribuintes.
As investigações da Polícia Federal estão sendo impecáveis e irrefutáveis, de forma que o processo delas decorrente inevitavelmente terminará, no mínimo, com a prisão do chefe da organização criminosa familiar e a de seu filho Carlos.
O crime no qual as digitais do bando de arapongas trapalhões ficaram impressas com máxima clareza, espalhadas por todos os cantos, é tão grave que virá somar-se aos dois outros potencialmente mais danosos para o palhaço genocida em termos penais: as centenas de milhares de mortes decorrentes de sua sabotagem ao combate científico de uma pandemia letal e a tentativa de golpe de Estado em 08.01.2023. E, como gato escaldado tem medo de água fria, até a corja do
centrão tende a deixá-lo agora entregue à própria sorte, pois uma das coisas que ela mais teme é esse tipo de arapongagem ampla, geral e irrestrita, que pode colocar nas mãos do mandatário de ocasião trunfos devastadores para impor sua vontade a parlamentares que têm esqueletos no armário (e só pouquíssimos deles não os possuem).
Com Bolsonaro definitivamente fora do jogo, um grande prejudicado será o Lula, cujo governo está perdido no espaço, cedendo a todas as chantagens dos parlamentares fisiológicos e tentando ressuscitar políticas econômicas cujo prazo de validade expirou várias décadas atrás.
Ele deixará de ser tolerado a contragosto pelos que temem a volta de um presidente que foi pior ainda. Então, se Lula não conseguir fazer o PIB crescer significativamente (3% é pouco após as perdas de poder aquisitivo virem se acumulando desde 2014!), ao mesmo tempo evitando que os poderosos fiquem com quase tudo para si, terá muita dificuldade para concluir o seu mandato. Quanto à esquerda complacente, faço-lhe um alerta: se ela continuar servilmente a bordo da barca lulista, correrá sério risco de afundar com ela.
Está mais do que na hora de resgatar a combatividade perdida e a identidade histórica de antípoda do capitalismo, ao invés de se sujeitar ao melancólico papel de força auxiliar da dominação burguesa, deixando-se cooptar em troca de migalhas de poder.
(por Celso Lungaretti)