Em artigo publicado no Pagina12 na manhã deste domingo (31), o jornalista Pablo Esteban alertou para a exploração do lítio argentino pelo bilionário Elon Musk e suas empresas e pelo governo do Estados Unidos. “Tanto Javier Milei quanto sua chanceler, Diana Mondino, deram sinais na mídia e nas redes sociais de seu desejo de que o proprietário da Tesla e da rede social X desembarque com todo seu poder na Argentina. Para isso, não apenas abriram as portas dos céus, desregulando – através do controverso DNU (Decreto de Necessidade e Urgência) – os serviços de internet via satélite para permitir a competição de empresas estrangeiras e sinalizaram para o Starlink; mas também estão preparando o tapete vermelho para que ele possa percorrer o norte argentino e começar a competir por um dos recursos mais importantes desta época: o lítio”.
“Nos últimos dias, sentado à mesa de Mirtha Legrand, Milei manifestou com alegria que tanto Musk quanto o governo dos Estados Unidos estavam ‘muito interessados’ no lítio argentino”, lembra o jornalista, citando Bruno Fornillo, pesquisador do Conicet e especialista em estudos sociológicos de lítio, que explica: “o que Musk está fazendo é uma via direta de entrada. Faz parte da pressão geral que os Estados Unidos exercem em termos econômicos, militares e políticos na América Latina, basicamente, contra a China. A verdade é que, atualmente, o gigante asiático domina o campo da eletromobilidade e do novo paradigma energético, com cerca com dez anos de vantagem em relação aos seus concorrentes. Isso faz com que, pela primeira vez, o capitalismo atlântico esteja em declínio. Nesse cenário, aproveitando seus bons vínculos com Milei, Musk quer ver se pode adquirir alguma participação. Será difícil, a princípio, porque os recursos minerais pertencem às províncias”.
Esteban cita uma tentativa das províncias argentinas de proteger seus recursos, mas sem sucesso. “Diante da ameaça de o governo atual leiloar o norte argentino para o melhor ofertante, surgiram algumas propostas destinadas a evitá-lo. A principal iniciativa está relacionada à criação da Empresa Federal de Lítio, uma tentativa das províncias que possuem o recurso de decidir sobre o futuro desse ativo. É uma alternativa possível, uma vez que, com a reforma constitucional de 1994, o então presidente Carlos Menem entregou às jurisdições os recursos minerais. Essa decisão, embora tenha sido positiva para as províncias, na prática trouxe mais problemas do que soluções: atualmente, o cenário é caracterizado por um mosaico de heterogeneidades, acordos variados entre os diferentes governos e as empresas internacionais. Embora a nação pudesse ter agido para proteger os recursos e organizar o espectro de opções, nada disso aconteceu”.
“Além de o presidente atual estar interessado em fazer esforços para que Musk e o governo dos Estados Unidos possam aproveitar o lítio local, ao mesmo tempo, a China já está fazendo o mesmo. No entanto, o novo governo inclinou o tabuleiro a favor dos Estados Unidos. Uma boa notícia para Washington, que tem os olhos voltados para a região. No início de 2023, a chefe do Comando Sul dos Estados Unidos, Laura Richardson, alertou que uma de suas principais preocupações em relação à China é a disputa pelo lítio”, finaliza.