O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, anunciou hoje (1) o novo ocupante da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional no seu governo: o jurista Rodolfo Barra, que no passado integrou um grupo neonazista e chegou a participar de um ataque a uma sinagoga.
A nomeação acontece quatro dias depois do ultradireitista ter visitado em Nova York o túmulo do rabino Menachem Mendel Schneerson, mais conhecido como “o Rebe de Lubavitch”, considerado um local sagrado para o judaísmo.
O presidente eleito disse que foi “agradecer”, alegando que a parada, na sua primeira viagem depois da vitória eleitoral, foi por motivos “espirituais”. Apesar de ser católico, Milei expressou interesse no estudo do Torá, livro sagrado do judaísmo, e disse que visitaria Tel Aviv, capital israelense, antes da sua posse, em 10 de dezembro.
Rodolfo Barra assumirá o comando do órgão responsável por prestar assessoria jurídica ao Estado e defender a Argentina em julgamentos envolvendo o Tesouro. A expectativa é que ele dê respaldo legal às reformas econômicas que o ultradireitista pretende implementar.
Barra foi juiz do Supremo Tribunal e Ministro da Justiça durante vários anos do governo de Carlos Menem (1989-1999), peronista que aplicou políticas neoliberais na Argentina. O jurista foi responsável por assessorar o plano de privatização de empresas na década de 1990. Seu período como ministro foi marcado por controvérsias, como a autoria da chamada “Lei da Mordaça”, projeto de lei que buscava cercear a imprensa.
Ironicamente, em 1996 ele renunciou ao cargo de ministro após a imprensa revelar que, durante a juventude, ele participou do Movimento Nacionalista Tacuara — grupo neonazista do país envolvido no ataque a uma sinagoga. As investigações jornalísticas da época mostraram imagens de Barra fazendo a saudação nazista.
À época, o jurista declarou: “Se fui nazista, me arrependo”.
O Fórum Argentino Contra o Antissemitismo (Faca) condenou a nomeação de Barra nesta sexta-feira classificando-a “como uma afronta direta ao espírito democrático e plural” da Argentina. Ativistas políticos de esquerda também se manifestaram.
“Um novo governo não pode iniciar a sua administração acolhendo em suas cadeiras indivíduos que professem antissemitismo ou qualquer forma de expressão de ódio”, afirmou o Faca sobre a nomeação de Barra, que não comentou o assunto. “Pedimos às autoridades que tomem medidas imediatas para corrigir este erro lamentável”.
Durante a presidência de Fernando de la Rúa (1999-2001), Barra atuou como chefe da Auditoria Geral da Nação, mas logo depois se aposentou do cenário político e passou a atuar no setor privado e na academia.
Barra nasceu em 1947 e se formou como advogado pela Universidad Católica Argentina (UCA) em 1970. Entre 1974 e 1976, foi professor na UCA e na Universidade de Buenos Aires.
Com informações de O Globo.